quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Conhece os seus inimigos?

Hà 17 anos atrás, tinha acabado de chegar de comboio á Estação de São Bento na cidade do Porto . Nessa altura, entre a estacão e a Avenida dos Aliados havia um túnel para peões. Eram 8:30 da noite e estava atrasado para uma aula. Como estava algum trânsito e o semáforo para peões estava vermelho, decidi correr pelo túnel.
Mal desci as escadas, dei de caras com 3 jovens. Puseram-se á minha frente. Um deles agarrou-me pelos colarinhos do casaco e encostou-me ás grades de uma antiga tabacaria. Outro revistou-me os bolsos enquanto o terceiro estava alguns passos atrás a ver se vinha alguém.
Numa fracção de segundos , sem pensar muito , olhei nos olhos do que me estava a agarrar e perguntei-lhe:
"Como é que te chamas?"
Tão surpreendente como a pergunta foi a resposta;
"Chamo-me Pedro." - disse o meu novo amigo inesperado.
Entusiasmado pelo sucesso da diplomacia, não me fiquei por aqui:
"E tu? Como é que te chamas?" - perguntei ao que me revistava os bolsos e que acabava de encontrar a minha carteira num dos bolsos do casaco.
Depois dele ter respondido com um revirar de olhos, decidi perguntar ao terceiro que surpreendentemente também respondeu.
As fracções de segundos entre as perguntas e as respostas pareciam demorar horas.
Quando finalmente o último respondeu, ganhei coragem e disse:
"O meu nome é Jaime. Sou de Ermesinde. Podem abrir a carteira. Tenho 120 escudos que é o dinheiro que preciso para comprar o bilhete de comboio de volta para casa."
O que tinha a carteira na mão abriu-a e confirmou o que lhe tinha dito.
O que me segurava os colarinhos começou a aliviar a força, olhou para mim nos olhos e disse:
"Toma a carteira, e nunca mais passes por aqui a esta hora."
Quantas vezes já estiveste numa situação de desvantagem em que a derrota ou o prejuízo parece ser inevitável ? Quantas vezes desististe porque parece que não vale a pena fazer nada? Quantas vezes desistes de comunicar porque pensas que não vais ser ouvido?
Em todos esses momentos o foco está em ti ou nos outros? Pensas nas tuas necessidades ou nos interesses dos outros?
Demasiadas vezes pensas que não és capaz, que estás em desvantagem clara e que não vale a pena sequer lutar por um sonho porque a força dos outros é maior. Mas porque é que pelo menos não tentas de uma forma genuína fazer tudo ao teu alcance?
Muitas vezes os interesses dos outros só interferem com os teus porque não percebem que afinal são as tuas necessidades.
Instintivamente, e conhecendo as tuas limitações, concentra-te naquilo que podes fazer nesses conflitos. Trata os teus inimigos como pessoas: faz-lhes perguntas, ouve-os e pensa nos seus interesses.
Não podes escolher pelos outros, mas podes mostrar respeito, interessar-te por eles e comunicares de maneira simples e eficaz.
Sabes o nome dos teus inimigos? Já pensaste nos interesses deles?
De uma forma genuína e autêntica trata os teus inimigos como pessoas. Se tiverem algo teu, diz-lhes o que isso significa para ti. Talvez te surpreendas com o resultado.

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