quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Não Digas Tudo o Que Pensas, Pensa em Tudo o Que Dizes

Estávamos casados há poucos meses, quando pela primeira vez senti ciúmes como marido.
Foi depois duma cerimónia religiosa em que o sacerdote da congregação, um homem relativamente jovem e uma pessoa extraordinária, abraçou a minha esposa e deu-lhe dois beijinhos enquanto lhe perguntava:
"Como estás minha querida?"
Quando saímos da igreja, decidi não falar no assunto.
Afinal ainda estávamos praticamente na nossa lua-de-mel. Não queria estragar o momento perfeito que estávamos a viver ao mostrar-me inseguro ou demasiado sensível.
Cheguei até a pensar: "Como é que eu posso estar com este tipo de pensamentos em relação a este homem? Sou mesmo um "pecador"!"
Passaram-se algumas semanas e estivemos novamente numa reunião com o mesmo sacerdote. No final, o "ritual" do cumprimento demasiado amistoso repetiu-se. O ciúme voltou mas reprimi-o novamente.
Quando saímos da igreja e entramos no carro, notei que a minha esposa estava com uma expressão triste e um olhar vago.
"O que é tens?" - perguntei-lhe eu.
"Não é nada." - respondeu ela.
"Vá lá, eu sei que não estás bem, diz-me o que se passa."
Ela então contou-me que não se sentia bem da forma como era cumprimentada pelo sacerdote. Antes que terminasse de falar, já eu estava a abrir a porta do carro.
"O que é que vais fazer?" - perguntou-me ela.
"Vou dizer o que já penso há muito tempo."
Entrei pela igreja á procura do homem como se fosse pedir a extrema unção para alguém. Quando o encontrei disse-lhe : "Preciso de falar consigo a sós e tem de ser agora."
Encontramos um lugar mais reservado e disse-lhe:
"Sempre que cumprimentar a minha esposa por favor tenha em conta os sentimentos dela e os meus. "

Apesar de ter sido muito menos áspero do que pensava, achei ter feito o impacto necessário para que o comportamento mudasse sem afectar a nossa amizade.
No final desse dia, estávamos em casa e alguém inesperadamente bateu á porta. Era o sacerdote com quem tínhamos estado de manhã.
Pediu para entrar. Depois de nos sentar-mos os três na sala disse:
"Estive a pensar no que me disse esta manhã e peço desculpa se de alguma forma vos fiz sentir mal pela maneira que vos tenho cumprimentado."

Nesta história, não se trata de quem está certo ou quem está errado, quem é a vitima ou quem é o agressor. Penso que no que toca a possíveis conflitos ou a conflitos existentes, esta é a moral que pode tirar daqui:

1. Não diga tudo o que pensa.
2. Pense em tudo o que diz.
3. Os relacionamentos a serem mantidos são mais importantes que os resultados a serem atingidos.

Tal como escreveu o nosso poeta António Aleixo:

"Para não fazeres ofensas,
E teres dias felizes,
Não digas tudo o que pensas,
Mas pensa em tudo o que dizes."

A nossa amizade ficou mais forte naquele dia. Passou a haver mais amor e alegria num aperto de mão ou num sorriso do que em qualquer abraço costumeiro que não era sentido por todos da mesma forma que era dado.

Como seria diferente a nossa vida, se sempre que temos dúvidas sobre a conduta ou intenções de alguém nos mostrássemos vulneráveis  e lhes revelássemos os nossos pensamentos e sentimentos genuínos? Se pensássemos não só no que dizer mas como o dizer?

Hoje esta história vos deixo, não se esqueçam de António Aleixo.

Digam o que já pensam há muito tempo,  digam-no com amor.

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