quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Educar filhos de inimigos

Há alguns anos atrás conheci uma pessoa extraordinária com uma história de vida igual a ela, que me ensinou muito sobre como resolver conflitos.
Irei chamar-lhe Carla.
Quando a Carla era jovem, sofreu abuso e maus tratos dos seus próprios familiares. Os abusos chegaram ao ponto do seu irmão mais velho a engravidar.
Apesar de toda a família a aconselhar a abortar, a Carla decidiu levar a gravidez até ao fim.
Toda a família se revoltou contra ela. A própria mãe disse-lhe que se não abortasse nunca mais lhe perdoaria.
Alguns meses mais tarde perto do final da gravidez, ao entrar na casa de banho, a Carla viu o irmão pendurado por uma corda. Tinha-se suicidado. Depois do choque horrível, coube-lhe ainda dar a noticia á família.
O cenário era devastador. Rancor, ódio, tristeza, ressentimento, culpa e vergonha eram os sentimentos que dominavam na família.
Mas a Carla tinha o seu coração cheio de amor, perdão e esperança.
O irmão tinha deixado uma filha de dois anos que tinha sido abandonada pela mãe e estava ao cuidado da avó.
Assim que a Carla teve o filho, a mãe expulsou-a de casa. Como a sobrinha era ainda pequena e se tinha afeiçoado muito a ela, ela levou-a consigo e educou-a como se fosse sua própria filha.
Mais tarde, a Carla casou-se e procurou dar a melhor educação àqueles que sempre amou como seus filhos até hoje.
Apesar de todo o sofrimento, a Carla vive de uma forma alegre e bem disposta.
Sempre que penso nela imagino: como é que ela conseguiu perdoar os que a maltrataram? Como é que ela teve a coragem de ficar sozinha e defender o que ela sabia estar certo? Onde é que ela foi buscar forças para seguir em frente quando tudo à sua volta lhe dizia para desistir?
Ela sempre acreditou que podia quebrar um ciclo de maus tratos e de violência ao amar genuinamente os outros e fazer o que està certo.
Podemos agir em vez de reagir. Podemos controlar a nossa própria vida e escolhas sem estarmos condicionados pelas escolhas dos outros. Podemos controlar o curso das nossas vidas. O único momento que temos é o agora!
Sejam quais forem os maus-tratos que nos infligirem, somos livres para agir por nós próprios em vez de reagirmos.
Não somos simples objectos que recebem acção, somos pessoas que escolhem e agem por si próprias!
Por muito mal que nos façam, temos sempre a capacidade de escolher perdoar e amar. Na impossibilidade de educar os nossos inimigos, podemos sempre educar os filhos deles por meio do nosso exemplo, serviço e amor genuínos.
Obrigado Carla pelo teu exemplo de vida, e por me ensinares que podemos escolher ser felizes independentemente do que nos digam ou façam.
Obrigado por escolheres ser feliz!

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